O acesso à internet via satélite vai substituir a fibra óptica?
A fibra óptica revolucionou o acesso à internet no Brasil e no mundo. No início dos anos 2000, empresas como a Brasil Telecom (posteriormente adquirida pela Oi) começaram a estruturar as primeiras redes de fibra em parceria com o governo. Com investimentos bilionários em infraestrutura, estima-se que apenas o programa Gesac tenha mobilizado mais de R$ 1 bilhão em conexões ópticas, o Brasil expandiu uma malha aérea de mais de 1 milhão de km em fibra, cobrindo áreas urbanas e, gradualmente, regiões mais remotas.
Essa tecnologia consolidou-se como padrão por sua alta estabilidade, largura de banda e baixíssima latência. Mas, será que ela está prestes a ser substituída?
Com a chegada de novas tecnologias como o FWA, o 5G e, principalmente, a internet via satélite, o cenário começou a mudar.
A internet via satélite não é novidade, existe há cerca de 30 anos, mas somente recentemente, com projetos como o Starlink, da SpaceX, ela ganhou escala comercial global. Até 2024, a Starlink já havia lançado mais de 5.500 satélites em órbita baixa (LEO), com investimentos que ultrapassam US$ 10 bilhões. A empresa oferece conectividade em áreas remotas e em movimento, com velocidades que rivalizam com conexões fixas em muitos países.
A evolução do acesso a internet
Desde a década de 1970, diferentes tecnologias moldaram a forma como o mundo se conecta à internet. Essa evolução reflete avanços em infraestrutura e necessidades crescentes por velocidade, estabilidade e mobilidade. Assim como o acesso discado foi superado por DSL, cabo e fibra óptica, novas tecnologias como a internet via satélite e o laser óptico podem seguir o mesmo caminho. Abaixo, um panorama das principais etapas dessa transformação:
- Dial-up (Internet discada) – Anos 1990 a início dos 2000
Essa tecnologia usava a linha telefônica para estabelecer conexão com a internet, alcançando velocidades de até 56 kbps. Era comum ouvir os sons característicos de conexão do modem. Embora limitada em velocidade, foi responsável pela popularização da internet doméstica. - DSL (Digital Subscriber Line) – Popularizado entre 2000 e 2005
Foi uma evolução da conexão discada, permitindo acesso contínuo à internet sem bloquear a linha telefônica. Provedores enviavam modens que, em alguns casos, eram cobrados separadamente. A velocidade variava de 256 kbps até 5 Mbps, dependendo da versão e da infraestrutura local. - HDSL (High-bit-rate DSL) – Comum no setor corporativo nos anos 2000
Mais rápido e estável que o DSL comum, o HDSL era usado por empresas que precisavam de maior largura de banda e confiabilidade. Era caro e exigia instalação técnica especializada, sendo voltado a serviços dedicados. - Cabo coaxial – Popular nos anos 2000 a 2010
Distribuída por operadoras de TV a cabo, oferecia velocidades maiores que o DSL, entre 10 e 100 Mbps. Foi amplamente adotada em áreas urbanas e ainda é utilizada em várias regiões, apesar do avanço da fibra óptica. - Fibra óptica – Expansão a partir de 2010
No Brasil, sua implementação em larga escala começou após programas como o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), com investimentos de bilhões de reais. A fibra oferece velocidades superiores a 1 Gbps com altíssima estabilidade. Em 2023, mais de 80% das conexões fixas no Brasil já utilizavam fibra, segundo dados da Anatel.
Uso de Fibra Óptica no mundo
A fibra óptica é hoje uma das principais tecnologias de conectividade no mundo, garantindo velocidade, estabilidade e suporte a grandes volumes de tráfego de dados. Governos e empresas ao redor do planeta têm investido pesadamente em sua expansão, considerando a demanda crescente por internet de qualidade, especialmente após a pandemia. Abaixo, destacamos o panorama de investimentos e cobertura populacional em alguns dos países mais relevantes nesse cenário.
N° | País | Investimento estimado (US$) | Cobertura da população | Ano de referência |
---|---|---|---|---|
1 | Chile | US$ 500 milhões | 62% | 2022 |
2 | Brasil | US$ 5 bilhões | 68% | 2023 |
3 | Alemanha | US$ 10 bilhões | 50% | 2023 |
4 | França | US$ 15 bilhões | 70% | 2023 |
5 | Coreia do Sul | US$ 20 bilhões | 98% | 2023 |
6 | Japão | US$ 30 bilhões | 95% | 2023 |
7 | Estados Unidos | US$ 65 bilhões (Plano Biden) | 60% | 2024 |
Internet via Satélite X Fibra Óptica
Nos últimos anos, a internet via satélite voltou ao centro das discussões graças à Starlink, projeto da SpaceX que revolucionou o conceito de conectividade remota. Com mais de 5.000 satélites em órbita baixa e planos de expandir ainda mais sua constelação, a Starlink se posiciona como uma alternativa promissora à fibra óptica em regiões isoladas ou com infraestrutura limitada. A promessa é simples: levar internet de alta velocidade a qualquer lugar do planeta.
Apesar disso, a fibra óptica ainda é considerada o padrão-ouro da conectividade fixa, especialmente em áreas urbanas, devido à sua estabilidade, latência muito baixa e capacidade de transmissão de dados em altíssimas velocidades. A seguir, veja um comparativo direto entre as duas tecnologias, destacando suas vantagens e limitações:
Tecnologia | Vantagens | Desvantagens |
---|---|---|
Fibra óptica | Altíssima velocidade, estabilidade, baixa latência | Custo alto de implantação em áreas remotas |
Satélite | Cobertura global, fácil instalação | Latência maior e contratação somente para pessoas físicas |
Taara: Internet via laser
Além da Starlink, empresas como Amazon (Projeto Kuiper), OneWeb, Viasat e Telesat estão apostando na internet via satélite. Outro avanço promissor é o uso de internet via laser, com o Project Taara.
A Taara é uma empresa criada pela Alphabet, controladora do Google, que desenvolve uma tecnologia de internet baseada em comunicação óptica em espaço livre (FSOC). Em vez de utilizar cabos ou satélites, a empresa transmite dados por meio de feixes de laser entre terminais posicionados a até 20 quilômetros de distância. Esses terminais, com tamanho semelhante ao de um semáforo, conseguem alcançar velocidades de até 20 Gbps. Equipados com sensores e algoritmos inteligentes, ajustam automaticamente o alinhamento para manter uma conexão estável e confiável, mesmo em condições desafiadoras.
Essa tecnologia oferece uma alternativa promissora à fibra óptica, especialmente em regiões remotas e de difícil acesso, pois elimina a necessidade de obras e infraestrutura complexa. Além disso, a conexão via laser tende a ser mais resistente às interferências climáticas do que a internet via satélite. Recentemente, a Taara deixou o laboratório de inovação X da Alphabet para se tornar uma empresa independente. Agora, trabalha no desenvolvimento de um chip menor e mais potente, com lançamento previsto para 2026, e busca expandir sua atuação por meio de parcerias com grandes operadoras de telecomunicação.
Alternativas Que Vieram Para Somar
A internet via satélite tem avançado rapidamente e se mostra uma solução poderosa para regiões remotas ou de difícil acesso. No entanto, ainda não substitui a fibra óptica, que segue como a principal infraestrutura de internet devido à sua alta velocidade, estabilidade e baixa latência.
No futuro, tecnologias como satélite, laser e outras formas de conexão podem complementar ou até competir com a fibra, mas, por enquanto, elas são alternativas estratégicas, não substitutas. A tendência é a convivência entre diferentes tecnologias, formando um ecossistema híbrido que leve conectividade eficiente a todos os perfis de usuários.
Referências
- História da Fibra Óptica no Brasil – Cosif
- Histórico da Oi – Relação com Investidores
- Brasil Telecom – InfoMoney
- Starlink – Wikipédia
- Project Kuiper – Business Insider
- Internet Starlink: prós e contras – TechTudo
- Starlink, satélite, rádio ou fibra? – Futurecom
- Oi (empresa) – Wikipédia
- Histórico da Oi – Teleco
- Evolução do FTTH no Mundo – Teleco
- Análise do crescimento da infraestrutura de redes FTTH – UFPA
- Brasil e a infraestrutura de fibra óptica na UIT – Telesíntese
- Situação atual da Oi – InvestNews
- Trajetória da Oi – Click Petróleo e Gás
- Taara – Taara Connect
- Taara Project – X Company
- Starlink e desigualdade – Revista poliTICs
- Starlink no Brasil – Invest Sustain
- Starlink: como funciona – PCGuia
- Beneficiários do Starlink – MIT Technology Review
- Fotos: Canva